domingo, 4 de julho de 2010

'A política de saúde no Piauí é de favor', diz Teresa Britto

04 de Julho de 2010 11:48
Teresa Britto: 'A política de saúde no Piauí é de favor'

Teresa dos Santos Britto é vereadora da capital em segundo mantato. Antes, exerceu o cargo de Secretária Executiva na Prefeitura de Teresina durante a gestão do ex-prefeito Firmino Filho, de 2000 a 2004, e hoje, além de presidir o diretório estadual do Partido Verde, é a aposta da sigla na corrida ao Governo do Estado, garantindo palanque para a candidata à Presidência, Marina Silva. Com uma militância presente em 149 municípios, o PV foi uma força cortejada durante a pré-campanha, mas agora segue sozinho na disputa. Em entrevista O DIA, a principal liderança dos verdes não poupou críticas às gestões dos principais adversários na corrida ao Karnak, especialmente em uma ação mais incisiva na saúde pública.

Participaram da sabatina os jornalistas Cícero Portela, Mayara Martins, Nildene Mineiro e Mariana Karene.

É notório que a senhora pretendia disputar uma vaga na Assembleia Legislativa. Não acha que teria mais chances de ser eleita do que em uma campanha ao Karnak já com tripolarização definida?
Na verdade, sabemos do desafio que vamos enfrentar, mas temos um projeto em nível nacional, com a candidatura da senadora Marina Silva à Presidência da República, uma mulher que tem uma belíssima história de vida, ligada às questões sociais, com ética, um exemplo de superação. No Piauí, temos um projeto de desenvolvimento, respeitando potencialidades, questões sociais e ambientais. Não desenvolvimento por desenvolvimento, mas com compromisso, equilíbrio. Está faltando no Piauí e em outros estados esse equilíbrio. Esse é o projeto que queremos apresentar. Sabemos que nossa eleição para deputada estadual estava bem encaminhada, mas aceitamos esse desafio nos dados pelos verdes em nível estadual, em nível nacional, pela própria ex-ministra Marina Silva. E estamos felizes.

Vereadora, de que forma a sua candidatura pode favorecer a da ex-ministra Marina Silva?
Acredito que tanto a minha pode favorecer a de Marina, quanto a de Marina pode favorecer a minha. Temos uma história de vida parecida. Ela, à frente do Ministério do Meio Ambiente. Eu, em nível de Teresina, tendo ajudado a construir uma cidade mais equilibrada social e ambientalmente. Acredito muito que podemos ser o diferencial. Muita ética na política... O Piauí tem respeito pelo nosso trabalho em Teresina e percebemos isso por pesquisas. Há cinco anos aparecemos como a vereadora mais atuante de Teresina.

A senhora falou muito sobre sua atuação em Teresina. Qual sua estratégia para divulgar seu nome para todo o Piauí?
É importante Teresina porque é referência para todo o Piauí. O interior do estado procura serviço de saúde, educação. Uma das estratégias foi a ampliação do PV, que já está em 70% do estado. É um partido que cresceu com responsabilidade partidária, com integridade. Outra estratégia é levar esse modelo que desenvolvemos em Teresina, com nossa contribuição como parlamentar. Muito do que foi feito tem nossa participação como parlamentar, ouvindo os reclames da população, levando ao poder público e cobrando soluções. Muitas dessas reivindicações foram atendidas por conta dessa luta, na área da educação, da saúde, da moradia. Um exemplo é o Santa Maria da Codipi, que existe há 25 anos e não tinha hospital. Foi um dos nossos compromissos de campanha, levamos todas as lideranças, foi uma causa suprapartidária, e cobramos do ex-prefeito, que havia sido secretário de saúde por 10 anos e não tinha tido essa sensibilidade.

Antes do lançamento da sua candidatura, as negociações com o PTB para um apoio a João Vicente Claudino se mostravam avançadas. O que provocou essa mudança no fim do prazo para coligações?
Em todos os meios de comunicação afirmamos que nossa prioridade era a candidatura própria. Sempre batemos que nossa luta era pela viabilização da candidatura própria. Era um direcionamento nacional, estadual e buscas trabalhar durante todo esse período. Houve janelas abertas e os partidos que têm candidatos realmente nos procuraram, mas de forma que não valeria apena para nosso projeto no Piauí, como também em nível de Brasil. Seria uma incoerência termos uma candidata a presidente como a Marina e aqui termos ampliado o partido em quantidade e qualidade e não partirmos para esse desafio. O PV teve candidato quando era mais um movimento, era um partido pequeno. No Piauí tinha 20 e poucas executivas quando teve candidato a governador. Todas essas questões foram analisadas. Na capital fui a candidata mis bem votada, a reeleita mais bem votada da história. Como a gente ficaria para a sociedade, para a Executiva Nacional? Ouvimos todos os partidos, mas não fechamos. O partido que se colocou mais favorável foi o PTB, pois apresentava aquilo que solicitávamos, que era participação na política de governo nas áreas ambiental e de assistência social, espaço na chapa majoritária e um palanque para Marina Silva. Mas como seria esse palanque, se ele apoiava a ex-ministra Dilma? Vimos que não seria viável e a Executiva Nacional nos motivou muito para que lançássemos nossa candidatura.

Como a senhora pretende superar a questão econômica e política dos demais candidatos?
Em relação a essa questão logística, nós já estamos tendo apoio do partido, tanto que tivemos a vinda do empresário Guilherme Leal, que é um exemplo de ética, de comprometimento com a questão social, ambiental. A população vai se ater muito às propostas, a olhar nos olhos e ver quem fala verdadeiramente, quem fala demagogicamente. Nós vamos trabalhar dentro da realidade. A mulher é muito verdadeira. Esse sentido, essa sensibilidade de entender, de observar, sua forma de administrar. Vamos mostrar que os recursos poderiam ter sido melhor utilizados. Queremos fazer gestão integrando as políticas públicas, fazendo meio ambiente, esporte, cultura, saúde, educação de forma integrado. Hoje, em nível municipal e estadual, cada um trabalha no seu nicho, com políticas isoladas. Hoje há muito desperdício de recursos públicos porque cada área atua isoladamente.

No Piauí, a indecisão apontada pelas pesquisas é de apenas 10%. Como a senhora pretende romper essa tripolarização e de quem a senhora acha que tira votos?
Primeiramente, visitar todos os bairros de Teresina, todos os municípios do Piauí, ter contato com a população do Piauí, juntamente com nosso vice, doutor Sólon Reis, que é filho da região de Picos e que tem muito trabalho naquela região, uma região importante, juntamente com nosso candidato a senador, o engenheiro Antônio Florentino, com nossos candidatos a deputados estaduais e federais, com a população de Teresina que tem parentes e amigos no interior, acreditamos que quando a população conhecer a vereadora Teresa Britto vai levar uma mensagem de esperança, de desenvolvimento real.

E que proposta de desenvolvimento é essa?
23% dos piauienses são pessoas analfabetas e analfabetas funcionais. Grande parte da população que tem até ensino médio, às vezes até ensino superior, não sabe interpretar. Isso não se muda em quatro anos. Devemos repensar o modelo, começar um trabalho. Vamos ter nossa estratégia de combate às questões emergenciais, como segurança, combate à violência, mas a questão da saúde. Alta complexidade só existe na capital. Queremos levá-la para grandes pólos regionais. Hoje, para resolver pequenos problemas de saúde, as pessoas recorrem a Teresina. Se houver essa oportunidade de tratamento perto de casa, seria mais barato, menos desgastante psicologicamente e fisicamente. É um descaso do poder público. Temos deputados médicos, um governador médico, ex-prefeito de Teresina que é médico, vice do outro candidato é médico com três mandatos na assembléia e ainda assim não houve essa sensibilidade. Hoje não nascem mais filhos da terra no interior porque os pequenos hospitais não têm estrutura para uma pequena maternidade. Tentaram municipalizar a saúde, mas as prefeituras do interior não têm condição. Os 12% exigidos por lei a serem investidos em saúde não estão sendo respeitados. Tem de ser investido 12% e muito mais. Isso é uma questão de organização de governo, de recursos, fazer uma política integrada com governos municipais, estadual e federal. Queremos acabar com a política de favor e fazer política de direito. As pessoas vão reconhecer. Não precisa você fazer favor quando é obrigação. Lamentavelmente a política de saúde é de favor. Municipalização tem sido desastrosa. Os municípios não têm suporte porque é uma coisa cara.

O Piauí é um estado pré-industrial, praticamente. Como harmonizar a necessidade de desenvolvimento com a preservação do meio ambiente, que é a principal bandeira do PV?
Uma das preocupações que existe especialmente por parte de empresários, investidores, quando buscamos o empresário Guilherme Leal para ser vice-presidente na chapa de Marina Silva foi demonstração de que queremos desenvolvimento do Brasil, do Piauí, queremos que o setor empresarial, as grandes empresas busquem contribuir com responsabilidade ambiental. Impacto ambiental existe até quando respiramos. Precisamos compensar. Quando colocamos uma empresa que possa agredir o meio ambiente, precisamos de área de preservação, projetos de educação ambiental. A questão da Suzano... queremos que ela cumpra a legislação ambiental. Temos um código ambiental muito bom- que o PCdoB está tentando mudar, mas o PV está impedindo. Eles estão tentando acabar com as reservas legais. Queremos desenvolvimento com responsabilidade. Há poucos dias o Ministro da Fazenda estava preocupado com o desenvolvimento e o consumo. Hoje se tem mais recursos para se consumir do que demanda dos produtos. É preciso que haja esse equilíbrio entre oferta, condições de consumo. Se não houver, isso gera inflação. A população do Piauí ainda é o mais pobre, com menor IDH e foi esse um dos fatores que me levou a me candidatar. Ainda estamos muito distante do nosso potencial. O político que tem se apresentado para gestão estão apenas pelo poder. Estamos buscando ajudar com a melhoria da qualidade de vida e do desenvolvimento do Piauí. Venho dos movimentos sociais, da igreja católica há mais de 15 anos apesar de ter apenas 6 anos de vida pública.

E em relação ao agronegócio, tido pelos seus adversários como a principal janela para o crescimento econômico do estado?
O ponto de equilíbrio para o agronegócio é respeito à legislação ambiental. Não queremos mais do que isso. A legislação é muito clara. Não podemos barrar o desenvolvimento, sabemos que temos grande potencial. Vamos fiscalizar se esses investidores estão respeitando a legislação ambiental. O poder público tem de contribuir com a fiscalização, que é precária. Essa falta de fiscalização dá espaço para que os investidores não respeitem. Nossas diretrizes de governo têm proposta de desoneração de ICMS para as empresas que respeitem o meio ambiente, os requisitos como coleta de lixo, reservas ambientais, programas de educação ambiental. Seriam 4% ao longo de quatro anos. Essa redução a empresa continuará tendo se mantiver esse padrão. Não somos contra o agronegócio, somos contra o desenvolvimento sem responsabilidade ambiental, social.

Até a gestão de Silvio Mendes na prefeitura de Teresina, PSDB e PV eram aliados históricos. A que se deve o rompimento?
Não considero isso rompimento. Na verdade, desde o segundo mandato de Silvio Mendes que já éramos independentes na Câmara, apoiando os projetos de interesse da população. O PV cresceu, precisa manter sua identidade, essa independência é pelo melhor para a população, uma alternativa real. É questão de ter uma linha de atuação histórica ligada às questões ambientais, temos gestões que têm dado certo, em São Paulo, Minas Gerais, Natal. Precisamos manter nossa identidade e levar um modelo de gestão diferente para o Piauí e o Brasil, o jeito verde de administrar, respeitando o social, o desenvolvimento, vendo a saúde de forma diferente. Buscamos um médico para nosso vice vendo essa questão. Nosso senador é sindicalista, um engenheiro. Unimos todas essas potencialidades do partido, que têm experiência de vida e de trabalho, que já têm o que mostrar para o Piauí. É momento de o PV se manifestar, ser coerente.

Em caso de o PV ir para um segundo turno, de quem a senhora espera receber apoio. E, se não for, quem o partido está mais próximo de apoiar?
Primeiro acreditamos, diante das indecisões, e de sabermos que muitas pessoas diziam que votavam em sicrano e beltrano por falta de opção. Acreditamos que podemos romper esse bloqueio da polarização e ir para o segundo turno. Nesse caso, esperamos apoio da população do Piauí. Que ela analise, observe quem estará lado a lado da população, elaborando projetos de interesse da população, fazendo política para o povo. Não queremos nem pensar em não ir para o segundo turno e lá queremos apoio de todos.

Com o lançamento da candidatura própria, o Partido Verde perdeu apoio do PTN, PSDC e PRP, que previamente haviam divulgado a intenção de criar uma coligação dos pequenos. A senhora considera o apoio deles ao PTB uma traição?
Não.. sou muito democrática. Respeito muito a posição de cada pessoa, cada um busca a posição que lhe satisfaz. E se estar com o PSB os satisfez, não questiono. Eu lamento porque essa coligação que poderia ter acontecido. Dizia sempre que era momento de se afirmarem como partido e como políticos, que a população iria ver essa firmeza de que os pequenos não se curvam aos grandes, como foi o caso do PV, é o caso do PSOL, do PCB, do PSTU, PCO. Em nenhum momento isso nos desanimou. A militância verde está muito animada. Foi muito bonita e prestigiada nossa convenção. Lá estava o povo, pessoas de Parnaguá, uma cidade a 900 quilômetros de Teresina. O pessoal viajou 14 horas para estar na nossa convenção. Quando chegaram, disseram: “vereadora lá já tem gente que conhece a senhora, que está esperando a senhora”. Em nenhum momento tirou o brilho e a nossa empolgação.

Autor/Fonte: Jornal O DIA | Edição: Cícero Portela

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