sábado, 11 de dezembro de 2010

COP-16: Acordo deixa de lado o mais importante

11/12/2010 - 17h55
Acordo de Cancún traz esperança, mas deixa de lado o mais importante

Do UOL Ciência e Saúde

Em termos diplomáticos, os avanços obtidos na conferência do clima da ONU em Cancún são inegáveis. Porém, no que se refere ao futuro do planeta, muito pouco foi conquistado. As metas para redução nas emissões de gases de efeito estufa, o principal instrumento para evitar a elevação da temperatura global em mais de 2ºC, ficaram para depois. E é possível que não sejam definidas nem no ano que vem, na COP-17, na África do Sul.

“No que se refere à questão científica, estamos na mesma situação, pois o que importa é cortar emissões e isso não foi definido”, comenta a professora Suzana Kahn, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, uma das brasileiras a integrar o Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC), da ONU. Ex-secretária nacional de mudanças climáticas, ela acompanhou de perto as negociações em Cancún.

Kahn diz que a COP-16 teve o mérito de estabelecer as bases para um acordo global futuro. Mas ela acredita que uma decisão sobre corte de emissões que inclua todos os países não deva ser firmado antes de 2012. “Um segundo período de Kyoto não é suficiente; para não ultrapassarmos o limite de 2ºC é preciso um acordo global e não haverá tempo para isso ser definido em 2011”, opina.

Esperança

O ex-ministro do Meio Ambiente Carlos Minc, hoje deputado estadual (PT-RJ), também lamenta a falta de acordo sobre metas de emissão. “Todas as propostas oferecidas pelos países até agora, além do Protocolo de Kyoto, levam a um aumento de temperatura de 3,5ºC, o que significa que vamos ter um cataclisma”, explica.

Mas ele diz que a regulamentação do REDD (Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação de floresta) e do fundo de adaptação representa um avanço significativo. “O acordo de Cancún deixou uma esperança, e não um gosto de frustração absoluta”, conclui.

Veja o que ficou definido na conferência do clima em Cancún

Financiamento

A grande decisão foi sobre o Fundo Verde, que será “a entidade operacional de mecanismos de financiamento da Convenção”. Ele estará sob responsabilidade da ONU, mas terá o Banco Mundial como tesoureiro nos primeiros três anos. Deverá ser governado por 24 países, divididos igualmente, entre ricos e pobres.

O financiamento de começo rápido prevê o destino de U$ 30 bilhões de 2010 a 2012, com uma alocação balanceada entre ações de redução e adaptação. Já a longo prazo ficou decidido que novos fundos devem ser criados em vista às necessidades urgentes e imediatas dos países em desenvolvimento vulneráveis às mudanças climáticas. O texto reconhece o compromisso dos países desenvolvidos em doar U$ 100 bilhões por ano até 2020 e que estes recursos poderiam vir de setores privados e públicos e em acordo bi ou multilaterais.

Adaptação

A adaptação às mudanças climáticas ganha destaque no pacote, apesar de não contar com ações práticas determinadas. O texto diz que adaptação precisa da mesma prioridade que a redução das emissões dos gases do efeito estufa. Para isso, requer acordos formais para reforçar as ações e suporte à adaptação. O fundo para isso priorizará os países pobres mais vulneráveis, como os países menos desenvolvidos, pequenas ilhas e África.

Emissões de gases de efeito estufa

O pacote não faz referência a um acordo legalmente vinculante de metas de gases do efeito estufa, seguindo Kyoto, a partir de 2012. Ele apenas traz para a discussão as promessas voluntárias de redução apresentadas no Acordo de Copenhague. Vale lembrar que estas metas, se adotadas perfeitamente, não conseguiriam limitar o aumento da temperatura em 2 º C, o que é estabelecido como limite pelo mesmo documento. O texto diz que os países desenvolvidos devem apresentar um relatório anual sobre as emissões e um bienal sobre o progresso da redução de emissão. Também devem estabelecer planos para estimar as emissões geradas pelo homem.

Protocolo de Kyoto

Além dos países concordarem em decidir metas legais o quanto antes e em tempo de evitar um intervalo entre o primeiro e o segundo períodos do Protocolo, o texto sobre o Protocolo ainda reconhece que todos os países desenvolvidos, como um grupo, devem reduzir suas emissões de 25% a 40% comparado com 1990 até 2020. Para alcançar este objetivo, pede que os países aumentem suas ambições de redução de emissão de gases do efeito estufa, para além das promessas de Copenhague.

Transferência de tecnologia

Em relação à transferência de tecnologia, a definição principal é dar prioridade aos países menos desenvolvidos, desenvolvendo tecnologia nestes países e em parceiras bi ou multilaterais. Os países ricos devem desenvolver e organizar tecnologia, incluindo pesquisa cooperativa e programas de difusão de tecnologias e conhecimento em países em desenvolvimento, além de acelerar estas ações.

REDD (Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação de floresta)

O pacote balanceado também determina regras para a criação do REDD (Redução de Emissões de Desmatamento e Degradação de floresta), que proveria recursos para os países preservarem suas florestas (grandes armazenadores de CO2). Estima-se que 20% de todas as emissões atuais sejam causadas pelo desmatamento, sendo que Brasil e Indonésia possuem os maiores índices no mundo.

As chamadas salvaguardas, o respeito ao conhecimento dos povos indígenas e comunidades locais e sua participação como parte integrante, devem ser apoiadas. A mensuração ou verificação destas políticas de salvaguarda foi retirada do texto, um pedido de brasileiros. Esta é uma importante medida para o Brasil, pois, de acordo com a ministra do Meio Ambiente Izabella Teixeira, “dá outra perspectiva para discutir políticas públicas internacionais sobre o tema”. O país já possui um “precursor” do REDD, o Fundo Amazônia, que recebe doações por diminuir o desmatamento da floresta.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Ruralistas tentam acelerar votação do Código Florestal, alerta Marina Silva

07/12/2010 - 20h18
Ruralistas tentam acelerar votação do Código Florestal, alerta Marina Silva em Cancún

Do UOL Ciência e Saúde*

Atualizada em 08.12.2010

A bancada ruralista apresentou, nesta terça-feira (7), uma lista com mais de 370 assinaturas para colocar o projeto de lei que institui o novo Código Florestal em votação em regime de urgência na Câmara dos Deputados. A informação é da ex-ministra do Meio Ambiente e senadora Marina Silva, que acompanha as negociações sobre o clima na COP-16, em Cancún.

Marina diz que procurou o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e ele lhe deu garantias de que o assunto não seria votado nesta legislatura. Além disso, não houve acordo entre os líderes da Câmara para incluir o requerimento na ordem do dia nesta terça-feira. Mas a ex-ministra teme que, com as assinaturas em mãos, não haverá como impedir a aprovação do regime de urgência.

“Estou tentando conseguir a lista dos deputados que chancelaram esse pedido de urgência, porque é muito bom que a sociedade possa dialogar com aqueles que estão assinando essa irresponsabilidade, que é um verdadeiro retrocesso na legislação”, afirmou Marina Silva ao UOL Ciência e Saúde em Cancún.

Ao site Congresso em Foco, o líder no governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), admitiu apoiar a votação do pedido de urgência este ano para que a matéria seja votada no ano que vem.

A presidente eleita Dilma Rousseff, durante o segundo turno das eleições, comprometeu-se a vetar a anistia aos desmatadores e a redução das áreas de proteção permanente da floresta Amazônica caso estas alterações do Código Florestal sejam aprovadas pelo Congresso. O perdão aos desmatadores e a redução das áreas de preservação são os pontos mais polêmicos do Código.

Sobre a conferência em Cancún, Marina diz que a expectativa é que a reunião defina um “caminho operacional” para a aprovação de um acordo com compromissos vinculantes para todos os países no ano que vem, na COP da África.

* Colaborou Camila Campanerut, do UOL Notícias em Brasília

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Descoberta de bactéria no arsênico amplia perspectiva de vida em outros planetas

02/12/2010 - 19h05
Descoberta de bactéria no arsênico amplia perspectiva de vida em outros planetas

EFE

A Nasa (agência espacial americana) anunciou nesta quinta-feira que seus cientistas encontraram em um lago da Califórnia bactérias que vivem no arsênico, uma descoberta que, segundo eles, amplia a lista de elementos que podem propiciar a vida em outros planetas.

"Todas as formas de vida que conhecemos se compõem, principalmente, de seis elementos: carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, enxofre e fósforo", disse em entrevista coletiva a cientista Felisa Wolfe Simon, do Instituto de Astrobiologia da Nasa, em Menlo Park, no estado americano da Califórnia.

"Nós encontramos uma bactéria que pode substituir o arsênico pelo fósforo", destacou Wolfe Simon, quem nomeou o microorganismo de GFAJ-1.

Nas fotografias mostradas pela pesquisadora, as bactérias que crescem no arsênico têm o aspecto de feijões brancos.

"O que apresentamos a vocês hoje é um micróbio que achamos no Lago Mono da Califórnia e que pode viver no arsênico", explicou a astrobióloga, acabando com as expectativas que precederam à entrevista coletiva.

A convocação da entrevista pela Nasa, que mencionava "uma descoberta de astrobiologia que impactará na busca de vida extraterrestre", tinha alimentado especulações de que a agência haveria achado vida no espaço.

Apesar não cumprir as expectativas, a astrobióloga Pamela Conrad, do Centro Goddard de Voo Espacial, qualificou o achado como "muito interessante". Segundo ela, a descoberta "significa que ainda não sabemos tudo o que precisamos sobre as condições essenciais para sustentar a vida".

"Em termos de vida extraterrestre, o arsênico talvez não seja um dos elementos essenciais, mas também pode ser que seja um entre tantos elementos que, sim, sustentam a vida", acrescentou Conrad.

O professor de ecologia James Elser, da Universidade Estadual do Arizona, disse na teleconferência que o achado abre a possibilidade de trabalhar com organismos que não necessitem de fósforo, elemento que desempenha um papel crucial na agricultura moderna.

"O achado de uma forma de vida que não necessita fósforo é impressionante", declarou.

A descoberta foi assunto de intensas especulações nos blogs tecnológicos, como Gawker e PC World, que falavam nos últimos dias sobre a possibilidade de a agência americana anunciar nesta quinta-feira que havia encontrado vida no espaço.

O principal fator que suscitou as especulações foi a convocação da entrevista coletiva na qual a Nasa anunciava "uma descoberta astrobiológica" que teria impacto na busca de vida extraterrestre.

A descoberta provocará mudanças nessa atividade de busca da Nasa, que até agora só procurou vida em planetas que continham os elementos até hoje considerados imprescindíveis para a existência de qualquer ser.

Segundo a pesquisadora da Nasa, a descoberta permite se pensar que outros elementos químicos poderiam propiciar a vida, não se limitando portanto aos já determinados - carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, enxofre e fósforo.

"Embora esses seis elementos conformem os ácidos nucleicos, as proteínas e os lipídios e, portanto, a maior parte da matéria viva, é possível, teoricamente, que alguns outros elementos da tabela periódica possam cumprir as mesmas funções", ressalta o artigo.

Os pesquisadores acharam nas águas tóxicas e salubres do Lago Mono, na Califórnia, uma bactéria da família Halomonadaceae, que pode substituir completamente o fósforo com arsênico a ponto de incorporar este elemento ao seu DNA.

O arsênico é sumamente tóxico para os organismos vivos - pelo menos os conhecidos até agora - porque prejudica os processos metabólicos embora, do ponto de vista químico, se comporte de maneira similar ao fosfato.

Os cientistas já tinham encontrado antes outros organismos que podiam alterar quimicamente o arsênico. Estes organismos se vincularam ao envenenamento de água subterrânea em Bangladesh e outras partes da Ásia, onde a população recorreu à água de poços ou mananciais para evitar a contaminação de cólera.

Os pesquisadores da Nasa cultivaram a bactéria, que cresce e se multiplica confortavelmente no meio tóxico, em pratos de petri nos quais se substituiu gradualmente o sal de fosfato por arsênico.

O processo continuou até que as bactérias cresceram sem necessidade de fosfato, um elemento essencial na construção de várias macromoléculas presentes em todas as células, inclusive os ácidos nucleicos.

Os cientistas acompanharam de perto o efeito do arsênico na bactéria, desde a ingestão do químico até sua incorporação em vários componentes celulares.

Dessa forma, determinaram que o arsênico tinha substituído completamente o fósforo nas moléculas da bactéria até seu próprio DNA.

"A forma como o arsênico se introduz na estrutura das biomoléculas não está clara, e não conhecemos os mecanismos pelos quais operam tais moléculas", assinalaram os pesquisadores.

"A troca de um dos elementos biológicos maiores pode ter um profundo significado evolutivo e geoquímico", concluem.

Nasa encontra nova forma de vida na Terra

02/12/2010 - 15h28
Nasa encontra nova forma de vida em lago na Califórnia

AFP
Por Kerry Sheridan

WASHINGTON, 2 dezembro 2010 (AFP) - Escondida nas profundezas de um lago na Califórnia, a descoberta de uma bactéria capaz de alimentar-se de arsênico deixou pesquisadores da Nasa boquiabertos, o que deve ampliar a busca por formas de vida na Terra e fora dela.

O estudo, financiado pela Nasa e divulgado esta quinta-feira (2), redefine o que a ciência considera como elementos necessários para a vida, como carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre.

Não apenas revela que as bactérias vivem em arsênico, mas também crescem incorporando o elemento a seu DNA e membranas celulares.

"O que é novo aqui é o arsênico sendo usado como tijolo pelo organismo", explicou Ariel Anbar, coautor do estudo que será publicado na edição online da revista Science Express.

"Nós sempre tivemos a ideia de que a vida existe com estes seis elementos sem exceção e veja só, bem talvez haja uma exceção", afirmou.

A descoberta foi feita por Felisa Wolfe-Simon, uma ex-cientista do grupo de pesquisas de Anbar, na Escola da Exploração da Terra e do Espaço da Universidade Estadual do Arizona.

O vago anúncio da Nasa, feito no início da semana, durante entrevista coletiva, sobre "uma descoberta de astrobiologia que impactaria a busca por evidências de vida extraterrestre", semeou a internet de especulações.

A astrobiologia se dedica ao estudo da vida no universo, inclusive sua origem e evolução, onde está localizada e como pode sobreviver no futuro.

Mas Anbar reconhece que será necessário dar um grande salto para se descobrir vida extraterrestre.

"Estamos mais no começo de tudo", afirmou. "Talvez haja outras exceções sobre as quais devamos pensar a respeito".

"Somos muito influenciados pela vida como conhecemos. Quanto a vida pode ser diferente e ainda funcionar?", questionou.

Alguns anos atrás, Wolfe-Simon, Anbar e o colega Paul Davies começaram a discutir a ideia de que formas diferentes de vida possam existir na Terra, mas por regras biológicas diferentes das nossas, uma noção conhecida informalmente por cientistas como "vida estranha".

O trio de cientistas publicou em 2009 a hipótese de que o arsênico, que aparece diretamente abaixo do fósforo na tabela periódica, poderia substituir o fósforo em formas de vida terrestres.

Wolfe-Simon saiu a campo para testar sua teoria, em colaboração com Ronald Oremland, um renomado especialista mundial em microbiologia.

Ela recolheu sedimentos do lago Mono, conhecido por seus altos índices de sal e arsênico, no leste da Califórnia, e levou o material para o laboratório.

Wolfe-Simon conseguiu fazer uma bactéria conhecida como a cepa GFAJ-1 das família Halomonadaceae Gamoproteobacteria, crescer no laboratório.

"O organismo vem da natureza", disse Anbar. "É uma bactéria conhecida", emendou.

A descoberta pode abrir novos caminhos na pesquisa de doenças e possivelmente novos capítulos em livros de biologia, disseram os cientistas.

"Às vezes você pensa que algo não vai funcionar, mas aí você procura e às vezes encontra", disse Anbar.

"E então você percebe, 'oh, eu não entendia as coisas tão bem quanto pensava'. Isto acontece todo o tempo na ciência. É o que torna as coisas divertidas", concluiu.