sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Cerca de 70% do país está sob risco crítico de fogo

27/08/2010 - 17h36
Cerca de 70% do país está sob risco crítico de fogo, aponta Inpe

Raquel Maldonado*
Do UOL Notícias
Em São Paulo

As altas temperaturas e a baixa umidade relativa do ar registradas nas últimas semanas deixaram cerca de 70% de todo o território nacional sob risco crítico de fogo nesta sexta-feira (27), ou seja, correndo risco iminente de incêndio. A afirmação é de Raffi Agop, meteorologista e analista de queimadas do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Segundo Agop, além do ar seco e do calor, a falta de chuvas e o tipo de vegetação de cada região são fatores levados em consideração para indicar o risco de incêndio de determinada área.

De acordo com as imagens do Inpe, somente os extremos norte e sul registram condições um pouco melhores, porém isso não indica que estão fora de perigo. “A diferença entre médio risco e risco crítico não é muita. Isso depende também das condições climáticas no momento em que o foco se dissipa. O vento forte, por exemplo, pode aumentar muito o risco de queimadas”, explica Agop.

Levando em consideração as previsões para os próximos dias, a situação deve melhorar com a aproximação de uma frente fria que trará queda nas temperaturas e chuvas para algumas regiões.

Entretanto, o novo cenário chegará apenas no domingo (29) e não deve ser forte o suficiente para atingir todo o Brasil. Somente os Estados do sul do país e parte do litoral do nordeste serão afetados pela frente fria. Além disso, áreas do Amazonas, Rondônia, Pará e Amapá também devem sentir as melhoras.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, cerca de 10 mil pessoas estão envolvidas no trabalho de combate ao fogo, principalmente nas áreas de proteção ambiental. Desse contingente, 3.000 são dos institutos Chico Mendes e Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e 7.000 são bombeiros de todo país.

Para o analista do Inpe, além das condições climáticas, grande parte dos incêndios pode ter origem criminosa. Esta semana, o Ibama já aplicou mais de R$ 4 milhões em multas por queimadas ilegais na região Norte. Em Rondônia, uma pessoa foi presa em flagrante ontem (26) por atear fogo, sem autorização, em uma pastagem. Além da prisão, o infrator recebeu multa de R$ 3,4 milhões.

No Pará, sete proprietários rurais dos municípios de Novo Progresso e Altamira, no oeste do Estado, também foram multados. Eles provocaram queimadas em 724,91 hectares de pastos e florestas em regeneração. Além da multa de R$ 726 mil, o Ibama embargou as áreas.

Segundo o Ibama, a multa por queimada irregular é de R$ 1.000 por hectare em área de pasto e de R$ 5.000 em áreas de conservação, reservas legais ou áreas de proteção permanente.

A orientação dos órgãos ambientais é para que não sejam feitas queimadas, mesmo controladas, nesta época do ano. Seguindo essa recomendação, a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) proibiu a queima da palha da cana-de-açúcar, que costuma ser feita durante a colheita. A chamada queima controlada, que era permitida entre às 20h e às 6h, está sob restrição total até que a umidade relativa do ar se estabilize em níveis acima de 20%.

Aumento de 250% em 2010
O total de registros de focos de incêndio em todo o território nacional cresceu 253% entre o início de janeiro e hoje (27), em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados são de levantamento com bases em dados colhidos pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) do satélite Aqua.

Entre 1º de janeiro e 27 de agosto de 2009, ocorreram 10.239 notificações de incêndios. No mesmo período de 2010, o instituto contabilizou 36.133 focos de incêndio. O índice de focos de incêndio é o maior desde 2005, quando, no mesmo período, houve um total de 28.988 registros de queimadas no país.

Segundo o Inpe, é preciso frisar que ao fazer uma comparação utilizando um período longo de tempo como este é possível que ocorram distorções, uma vez que de um ano para outro as condições climáticas, como nebulosidade, por exemplo, não são as mesmas. Este fator acaba impossibilitando uma comparação exata das ocorrências.

Além disso, o Inpe utiliza diversos radares com características diferenciadas. Normalmente, o instituto usa como referência o Noaa-15, porém desde o dia 30 de junho este radar está com limitações na cobertura dos Estados do Acre, Amazonas, Amapá, Rondônia, Mato Grosso e Pará - pegando exatamente a área mais atingida pelos incêndios atualmente. Por isso, seguindo a indicação de um técnico do próprio Inpe, a reportagem utilizou dados do radar Aqua que possibilitaria uma comparação mais precisa.

O Estado campeão até aqui em número de focos de incêndio é Mato Grosso, com 7.983 focos, um acréscimo de 510% com relação ao ano anterior (no mesmo período). Em seguida aparecem Pará (7.584, aumento de 321%), Tocantins (5.008, aumento de 344%), Maranhão (3.119, crescimento de 243%), Piauí (2.378, 511% de aumento) e Bahia (1.726, aumento de 48%).

Em 2009, neste período de 1º de janeiro a 27 de agosto, o Estado do Pará aparecia em primeiro lugar neste ranking, com 1.800 focos. Em seguida, vinham Mato Grosso (1.309), Bahia (1.161), Mato Grosso do Sul (1.139) e Maranhão (1.087).

Agosto, mês campeão
Segundo dados do Inpe, 67% de todos os incêndios notificados em 2010 ocorreram no mês de agosto.

Além disso, somente neste mês a diferença entre 2009 e 2010 foi de 495%. Enquanto que de 1º a 27 de agosto de 2009 ocorreram 4.054 notificações de incêndios, no mesmo período de 2010, o Inpe contabilizou 24.133 focos de incêndio.

*Com informações da Agência Brasil

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Áreas de preservação ambiental no Rio estão em alerta máximo por causa da seca

26/08/2010 - 19h45
Áreas de preservação ambiental no Rio estão em alerta máximo por causa da seca

Cristiane Ribeiro
Da Agência Brasil
No Rio de Janeiro

O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) decretou hoje (26) alerta máximo em todas as unidades de conservação do Rio de Janeiro por causa da falta de chuva e dos níveis muito baixos da umidade relativa do ar.

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, não há previsão de chuva até a próxima semana e a média da umidade do ar no Rio tem ficado entre 20% e 30%, mas ontem chegou a 12% na zona oeste da cidade.

As equipes do instituto estão em prontidão 24 horas por dia, mapeando as áreas mais suscetíveis a incêndios e passando as informações para o Centro Integrado de Gerenciamento de Incêndios Florestais. Criado há seis meses, o centro desenvolve estratégias para prevenção e combate a incêndios em matas, com base em um índice de risco de incêndios florestais.

Apesar do alerta em quase todo o estado, o presidente do Inea, Luiz Firmino, destacou que a maior preocupação é com o Parque Estadual da Pedra Branca, na zona oeste do Rio, e com o Parque do Desengano, na região de Campos dos Goytacazes, no norte fluminense. Estas áreas, segundo ele, são muito áridas e mais propensas a incêndios.

Na manhã desta quarta-feira, bombeiros foram acionados para apagar um incêndio no alto do morro do Andaraí, na zona norte do Rio. O fogo, que foi controlado horas depois, destruiu uma grande área de vegetação e assustou moradores de uma comunidade do morro.

Nesta semana, também foram registrados incêndios no cume da Pedra da Ermitage, em Teresópolis; no Parque da Pedra Branca; na Reserva Biológica e Arqueológica de Guaratiba no Rio; e no Parque Estadual da Serra da Concórdia, em Valença.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Lei aprovada em GO obriga castração de cães da raça pit bull

11/08/2010 - 20h29
Lei aprovada em GO obriga castração de cães da raça pit bull e limita horário de circulação

Luiz Felipe Fernandes
Especial para o UOL Notícias
Em Goiânia

Uma lei aprovada esta semana em Goiânia impôs uma série de restrições aos donos de cães da raça pit bull. De acordo com as medidas, eles têm até quatro meses para castrar os animais com idade superior a seis meses; estão proibidos de comercializar os cachorros; e devem circular com os animais em locais públicos apenas entre 22h e 5h –os cães devem ser conduzidos por maiores de 18 anos, com enforcador e focinheira. A multa para quem descumprir alguma dessas normas é de R$ 532.

Segundo o autor do projeto, vereador Maurício Beraldo (PSDB), a castração estará disponível gratuitamente no Centro de Zoonoses, da Secretaria Municipal de Saúde. Ele também pretende solicitar fiscalizações em parques e pistas de caminhada para garantir a aplicação da lei. Beraldo explica que propôs o controle da reprodução dos cães devido do grande número de ataques a crianças e idosos.

Antes de ser aprovado, o projeto tramitou por quase 10 anos na Câmara Municipal de Goiânia. A proposta inicial incluía outras quatro raças –rottweiler, mastin napolitano, dobermann e fila brasileiro–, mas acabou ficando restrita ao pit bull.

Levantamento do Hospital de Urgências de Goiânia mostra que nos últimos três anos foram atendidas 268 vítimas de ataques de cães. Só esse ano foram 34.

Mercado negro
Para Leonardo Scaff, dono dos dois cães eleitos em 2010 como os melhores da raça pit bull no Brasil, esterilizar os animais não vai resolver o problema. “Estaremos exterminando um ser vivo”, considera. Para ele, a lei deveria estimular a posse responsável, usando recursos como o microchip contendo os dados do cão e do dono, para que ele responda por qualquer dano. “E isso deveria valer para todo animal doméstico”.

Scaff diz que seus dois filhos pequenos (de 4 e 7 anos) convivem tranquilamente com os cães. Com a lei, ele prevê o surgimento de um “mercado negro” de comercialização de pit bulls. Isso porque, segundo o criador, as pessoas que quiserem ter o animal vão tentar adquiri-lo de outra forma.

No Brasil
Em 2007, os vereadores de Campinas (SP) também aprovaram uma lei que determinava a castração de cães da raça, mas ela foi vetada pelo prefeito Hélio de Oliveira Santos. Na época, a alegação foi de que o projeto era inconstitucional.

O Senado também aprecia uma proposta semelhante, de autoria do senador Valter Pereira (PMDB-MS), que tramita desde 2008. Em março deste ano, o projeto entrou na pauta de votação da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), mas foram solicitadas mais informações para que a matéria fosse apreciada. Hoje, o projeto encontra-se na secretaria-geral da Mesa, aguardando dados do Ministério da Agricultura.

A proposta do senador é ainda mais rigorosa. Ela prevê que, dependendo do caso, o dono de um cão de raça considerada violenta que atacar uma pessoa poderá responder pelo crime de homicídio doloso, cuja pena é de 20 anos de prisão.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Mudanças climáticas agravam seca no Nordeste e criam quatro desertos na região

05/08/2010 - 13h01
Mudanças climáticas agravam seca no Nordeste e criam quatro desertos na região

Carlos Madeiro
Especial para o UOL Notícias
Em Maceió

Marcado nos últimos meses por temporais, enchentes e tremores de terra, o Nordeste sofre com um mal silencioso que pode causar prejuízos ainda mais sérios à população que mora no semiárido: a desertificação. O processo atinge oito dos nove Estados da região, além do norte de Minas Gerais.

Segundo estudos, o clima no semiárido está cada vez mais seco, a temperatura máxima da região tem apresentado aumento significativo e as áreas sofrem com chuvas mais intensas, mas com intervalos maiores que a média histórica. Com as mudanças climáticas, quatro áreas desertificadas já foram identificadas por análises recentes.

Segundo relatório do Programa de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos na América do Sul, realizado por um instituto ligado a OEA (Organização dos Estados Americanos), a área afetada de forma “muito grave” no Brasil chega a atingir 98.595 km², ou 10% do semiárido brasileiro. Desse total, quatro são os chamados "núcleos de desertificação", que estão nos municípios de Gilbués (PI), Irauçuba (CE) e Cabrobó (PE), além da região de Seridó (RN), totalizando uma área de 18.743,5 km² (equivalente a 2.082 campos de futebol).

“Essa áreas já podem ser consideradas desertos e pior: estão se expandindo. Isso choca, mas é real”, afirmou o meteorologista Humberto Barbosa, coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites, localizado na Universidade Federal de Alagoas.

De acordo com o PAN (Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, ligado Ministério do Meio Ambiente), 1.482 municípios estão em área suscetível à desertificação em nove Estados (Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e norte de Minas Gerais). Essa área responde por 15,7% do território brasileiro, onde moram 31,6 milhões de pessoas.

Para o PAN, entre as principais causas do avanço da desertificação no país estão o extrativismo, o desmatamento desordenado, as queimadas e uso intensivo do solo na agricultura.

“Para diminuir o avanço da desertificação são necessários medidas como conservação do solo, da água e das florestas, ações para evitar desmatamentos, queimadas, uso de agrotóxicos, e sensibilização da população, principalmente das comunidades rurais”, afirmou Humberto Barbosa.

Segundo ele, há métodos para reduzir o avanço da desertificação no semiárido. “O caminho a percorrer é longo. A lógica é defender a prevenção, e aspectos como democratização da informação, formação voltada a uma melhor compreensão sobre as terras secas, participação qualificada, além de fortalecimento institucional e das instâncias de participação”, analisou o meteorologista.

Aumento de temperatura
Se as imagens de satélite apontam para um intenso processo de desertificação, outros estudos em solo também mostram que as mudanças climáticas no semiárido brasileiro estão em curso. Um estudo realizado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), em parceria com o Laboratório de Meteorologia de Pernambuco, aponta que as temperaturas médias das cidades fora do litoral estão aumentando de forma rápida.

Em 40 anos, por exemplo, cidades como Vitória de Santo Antão, na zona da mata pernambucana, registrou um aumento de 3,5°C (31,5ºC para 35ºC) na temperatura máxima diária. Enquanto isso, o estudo aponta que aumento médio da temperatura mundial, no mesmo período, foi de 0,4°C.

“Os dados mostram que a tendência de aumento das temperaturas máximas está presente nas séries históricas de todos os postos estudados. Amparados por outros aspectos relativos ao solo e vegetação, não estudados, tais constatações poderiam indicar que a região estivesse sofrendo um processo de desertificação. Mas esta afirmativa no momento ainda seria precipitada com base somente nos dados e métodos utilizados”, afirmou pesquisador do Inpe Paulo Nobre.

Além do aumento da temperatura, Nobre explica que as pesquisas apontam que as chuvas na região estão ficando mais intensas, porém, com períodos de estiagens mais longos, e o ar está cada vez mais seco.